A Fábrica de Microfones

     Nina era uma menina que adorava se aventurar, mesmo com os pais aconselhando sempre que era perigoso criança andar sozinha por aí. 
    Havia uma fábrica na rua atrás de sua casa e todas as crianças da rua tinham medo dali, pois diziam que o dono da fábrica mandava criança trabalhar lá dentro. Era uma fábrica de microfones, do tipo que Nina usa para cantar no karaokê de sua casa. A fábrica era grande e com vários corredores, um jardim enorme de grama aparada cercava o prédio cinzento. 
     Uma vez, Julio, amigo de Nina, sem querer deixou sua bola cair nos terrenos da Fábrica, enquanto jogava bola na rua com alguns garotos das casas vizinhas. Ele ficou com tanto medo de ir até lá, que a bola deve estar lá até hoje, com várias outras. 
    Mas Nina é corajosa e, querendo se amostrar para os amigos, prometeu que enfrentaria o dono da fábrica de microfones e sairia de lá, sem trabalhar nem nada. Assim, aproveitou a hora em que um caminhão de entrega passou pelos portões da fábrica, e entrou rapidinho, escondida. Aproveitou que havia um carro desligado no estacionamento e correu para ficar ali, sem ninguém a ver. 
   Logo que rechearam o caminhão com caixas e caixas de microfones novinhos, o caminhão saiu. Aproveitando a distração dos seguranças, Nina se adiantou para a primeira porta que viu. Uma vez lá dentro, Nina reparou que estava num corredor estreito e comprido, com algumas portas intercalando com prateleiras de caixas. Algumas pessoas passaram lá na frente... mas não a viram. Nina se escondia atrás da prateleira. 
    E então um sinal toca. Talvez fosse a hora do almoço, Nina pensa, já que se parecia com o toque da sua escola para o recreio. Essa era a hora. Todos estariam em um só lugar almoçando e, talvez assim, Nina descubra onde ficam as crianças e consiga fugir com elas. 
     Correu o mais rápido que conseguiu pelo corredor, tomando o cuidado de olhar com atenção para as portas, a qualquer momento alguém poderia passar por ali e vê-la. O que aconteceria a ela? Os pais descobririam que ela estava lá, e o dono da fábrica a libertaria? E as outras crianças? Nina afastou o medo da cabeça, ela não tinha medo! Ela era corajosa. 
      E então dois homens a vê, vindo do outro corredor. Ela para de correr e vira o outro corredor á esquerda, sabendo que agora eles vinham atrás dela. 
-Ninaaaaaaa!! –Um grita, e seu nome ecoa pelo corredor. –Ninaa! Ninaa! 
     Como ele sabia seu nome?! 
     Então ela se escondeu atrás de uma prateleira, cansada de correr, e resolve esperar para ver se eles acreditam que ela tenha continuado a correr. 
-Ela deve ter ido para o corredor lateral. Vou até lá, você vigie aqui. 
     Nina olhou e, ainda escondida, viu que o cara mais velho havia saído. Dali, o mais novo olhava para o corredor. 
-Sei que ainda está aí! Venha, não tenha medo de mim. Ninguém vai te prender. 
      Nina não sabia se podia confiar nele. A mãe sempre lhe fala que confiança se conquista. Foi ali que pensou: “se ele sabia que eu estava aqui, porque não contou para o outro que saiu atrás de mim?”. Tudo bem. 
      A menina sai de seu esconderijo e deixa ser vista. 
-Venha comigo, Nina. 
     Ela o seguiu, apesar de desconfiada, e logo chegaram a uma sala onde as paredes eram diferentes, pareciam acolchoadas. Havia uma guitarra e uma bateria enorme brilhando de nova, um microfone erguido á frente. E numa cabine de vidro, uma garota que poderia ter a idade de Nina, cantava num microfone usando um fone grande nos ouvidos. Um homem fortinho e baixinho, um pouco careca, a olhava encantado. E então, ele se vira para Nina. 
-Ah! Nina, seja bem-vinda! –O homem diz, deixando a menina confusa. –Não tenha medo! Acha que vou forçá-la a trabalhar aqui? 
     Lentamente, Nina afirma com a cabeça. 
-Não! Nunca faço isso! Apenas não gosto de bolas no meu gramado, fui obrigado a espalhar esse boato para não ter problemas. –Ele ri, e Nina se sente mais aliviada. Era tudo mentira, então. –Mesmo assim, de vez em quando temos visitas inesperadas como essa sua, onde crianças vem até aqui para ter certeza do que acontece aqui dentro. Pensa que não vimos você entrando? Vimos, mas a deixei chegar até aqui, como faço com todos. 
-O que...vocês fazem, então? –Nina pergunta, curiosa. 
-Isso! Aproveitamos nossos microfones, criamos esse mini Studio e oferecemos uma chance as crianças que chegam até aqui... de gravarem um CD. Esse é o trabalho que damos á elas...diversão! 
    Nina não sabia o que dizer, vendo a menina na cabine soltando a voz e gostando de fazer aquilo. Simplesmente: cantar. 
-Ual. Vocês...gravam um CD? 
-Um CD com músicas de várias crianças...você pode ser a próxima, o que acha, Nina? 
-Como sabe meu nome? 
-Conhecemos todas as crianças dessa rua. E sabemos que você canta em sua escola... 
    Realmente, a menina cantava. E como cantava...seu sonho era ser uma cantora profissional um dia. 
    Não deu outra: Nina aceitou gravar uma música! E sabia que seus pais aceitariam aquilo, era algo que eles sempre a motivaram: a realizar seus sonhos. Então, no dia seguinte voltaria á fábrica depois da escola, pronta para acertar tudo com o dono do Studio. 
     E assim, quando chegou a noite, voltou para casa sabendo que nem sempre as coisas são o que parecem ser. E a bola de Julio, ela levava com ela.

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